02 dezembro, 2009

Constatação

Da vida eu gosto é crua.

Quando dói, dói mesmo: dói o corpo e dói a alma. E então sei que estou viva, porque meu corpo é carne, sangue, músculo e fibra. Nasceu, cresceu e um dia vai morrer. Mas quando dói não tem passado, nem futuro: é só presente, latejando como só coisa que está viva.

Quando é bom, é bom mesmo. De um bom que pode ser manso e amplo ou súbita explosão de cintilâncias. Mas é bom no corpo e na alma. E eu então sei que estou viva, na paz ou no cansaço do meu corpo que é carne, sangue, músculo e fibra. Sem passado, nem futuro - no ondular da minha respiração de coisa viva.

Sem anestesia, sem subterfúgios, sem caminho fácil. Cheia de sabor, cheiro e textura, rescendendo à terra donde acabou de sair (e pra onde vai voltar). Crua, para afiar os dentes e instigar o que em mim é também bicho e instinto.

Da vida, eu gosto crua.

3 comentários:

  1. Você tem mesmo o dom de me mostrar o que eu preciso ler! =)
    Adorei.
    Beijo, Leila
    (Aquela do conto da Adélia Prado!)

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  2. Puxa, Leila, que bom que você gostou. Volte sempre que quiser (ou precisar).
    Beijos!

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