27 fevereiro, 2012

dádiva

Mas o anjo parece com tudo aquilo de que tive que me separar: os homens e também os objetos. Nos objetos que não tenho mais, ele mora. Ele os torna transparentes e atrás de cada um aparece aquele a quem foram destinados. Por isso, ninguém pode me superar na arte de presentear. Sim, talvez fosse o anjo atraído por alguém que dá presentes e vai embora de mãos vazias. (Walter Benjamin).

17 fevereiro, 2012

limão

o telefone toca várias vezes, mas só tem alguém na linha mesmo em duas. a primeira vez, aviso que o joão não está porque não mora aqui. o banco itaú na voz da mocinha pede desculpas. da segunda vez, quando querem falar com o joão, pergunto "de novo?" e o banco itaú na mão na mocinha desliga na minha cara, sem pedido de desculpas. pensar bem, pedir desculpa para quê?
desculpa, quando a gente pede, é para aliviar a nossa alma, que pro outro mesmo, nem adianta: o tempo já foi gasto, a tigela já quebrou, o sapato pedido emprestado já ralou. desculpas, quando a gente dá, é para aliviar a nossa alma, fingindo que a responsabilidade nem é nossa e pro outro mesmo, nem adianta: o trabalho ficou por fazer, o feijão já queimou, o cachorro já fugiu.
não ando querendo desculpa. nem desculpas.
o que eu queria pedir e dar era mesmo perdão, assim, grandioso e magnânimo. pra ver se adoçava um pouco tudo isso que anda meio azedo.