23 outubro, 2011

primavera

(clique na tirinha para ampliar)

 primavera estranha essa, com cara de inverno nos dias de infinito azul que de repente erram em cinza e choram como a ecoar a eternidade. tem dias que chove para sempre. tem primaveras que adiam o verão.

então hoje, duas flores na espada de são jorge. e eu nem sabia que ela florescia - comprei, há muitos anos, um vaso de sete ervas, e elas morreram uma a uma, a não ser a espada de são jorge: firme e forte, querendo alcançar o céu, crescendo para todos os lados, ocupando todas as brechas. boa companhia. que, muito de repente, rompe o silêncio e oferece uma flor. uma não, duas.

a flor estendida acorda a esperança. e as mãos decidem distrair o coração um tanto pesado remexendo terra, podando as folhas amareladas, limpando os vasos das flores ressecadas, fertilizando a terra cansada. a atenção e o cuidado resultam em descobertas: as violetas, todas brotando; as flores de maio, depois de tanto desesperar em flor, mais comedidas na oferta das pequenas pérolas rosadas; o kalanchoe, lembrança das bodas de prata da tia, imenso, feliz ao se esparramar em mais espaço. e as suculentas, compradas também há muitos anos, em pequenos vasos de cerâmica que logo tiveram que ser substituídos por outros cada vez maiores, tentando sobreviver mais um verão à ameaça dos pulgões. que se a secura queima, a umidade em excesso também faz murchar.

com o filho, o plantio das sementes: alface e couve-flor. por enquanto, nos pequeninos berços da germinação.

me espanto com toda essa insistência em nascer e florescer. com essas presenças silenciosas, parte cultivadas, parte teimando em viver. me espanto com esse mistério que as faz tirar da terra e de si mesmas as forças para se projetarem no mundo.

e como não entendo, me contento em agradecer a surpresa. como se, de supetão, a flor recém-descoberta rompesse, além da terra, o tempo e inaugurasse uma nova estação.

Tirinha: Liniers

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